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APAMPESP - Associação de Professores Aposentados do Magistério Público do Estado de São Paulo

Ao reabrir escolas no pico da pandemia, Governador desconecta Educação da realidade e põe vidas em risco

Por Walneide Romano, presidente da Apampesp

Walneide Romano, presidente da Apampesp

O noticiário desta semana reacendeu a discussão em torno de um tema polêmico que afeta não apenas o Magistério, mas mexe com toda a sociedade: a retomada das atividades presenciais nas escolas de São Paulo no momento mais grave da pandemia. A decisão foi anunciada no início desta semana pelo Governador do Estado, João Doria, e pelo prefeito da capital paulista, Bruno Covas.

De acordo com dados oficiais, no momento da publicação deste artigo (dia 14 de abril de 2021), o Brasil contabiliza mais de 13,6 milhões de casos. O país também ultrapassou hoje a marca de 362 mil óbitos. É assustador, é desesperador, é triste. Caminhamos para quase 400 mil vidas perdidas. É o momento em que mais do que nunca precisamos preservar as nossas vidas e as vidas dos que estão ao nosso lado. E neste momento grave e desolador, Governador, Secretário da Educação do Estado e Prefeito preferem pagar para ver o resultado, fechando os olhos para o fato de que estamos lidando com vidas.

Ainda que a vacinação já tenha se iniciado para os professores, o corpo leva um prazo de duas semanas para ativar a proteção adequada. Ou seja, os professores ainda não estão imunizados. Outro ponto fundamental: é importante esperar que grande parte da população tenha sido imunizada para evitar a contaminação de outras pessoas. Cientistas e profissionais da saúde já deixaram claro: quem já tomou a vacina ainda pode transmitir o vírus.

Como professores da rede pública, sabemos das condições das escolas estaduais. Não dá para dizer que todos os protocolos de segurança estão sendo adotados tomando apenas como base o álcool em gel por toda a escola e um maior distanciamento entre os alunos. Nós sabemos como são crianças e adolescentes. Que garantia temos de que não haverá contato direto com professores?

Um estudo da Escola Médica da Universidade Harvard, nos Estados Unidos (clique aqui para acessar o estudo, em inglês), concluiu que as crianças têm papel expressivo na transmissão da doença e podem chegar a ser mais contagiosas do que os adultos. É um dos maiores estudos de transmissão de Covid-19 já publicado com crianças. Mesmo sem sintomas, crianças e jovens apresentaram carga viral, nas vias aéreas, maior do que adultos internados em estado grave nas UTIs de hospitais, o que aumenta a capacidade de transmissão da doença.

Sob estas condições, além de expôr crianças, adolescentes, professores e toda a comunidade escolar, a decisão coloca em risco os pais, os avós, as pessoas do ciclo de convivência da criança ou do adolescente que frequenta a escola.

No final de fevereiro, para justificar o retorno às aulas naquela ocasião, o Governador divulgou um Boletim Epidemiológico da Educação (acesse aqui o documento na íntegra) e disse, em resumo, que a taxa de incidência notificada pelas escolas públicas e privadas foi 33 vezes menor do que a do Estado.

O principal argumento do Governo foi derrubado através de um estudo (veja aqui o estudo completo) lançado há poucos dias feito pela Rede Escola Pública e Universidade (Repu), um coletivo de pesquisadores e docentes de universidades e escolas públicas.

Entre 7 de fevereiro e 6 de março deste ano de 2021, período de volta às aulas, a disparada na incidência de Covid-19 entre professores foi de 138%, ante uma alta de 81% na população de 25 a 59 anos. Esse estudo corrige falhas graves na metodologia utilizada pelo Governo e traz uma diferença gritante, muito pior e assustadora.

A escola não é um organismo, não é uma instituição afastada e deslocada da sociedade. Ela está diretamente inserida. Sendo assim, enquanto não houver uma vacinação ampla e garantida para todos, não há como aceitar, como concordar com uma retomada das atividades presenciais.

Sabemos do impacto para os alunos de questões como o ensino a distância, a defasagem escolar e a falta de acesso à tecnologia, porém os prejuízos causados pela defasagem, pela carência e pela falta de acesso, a gente recupera. As vidas, não!

Professora Maria Walneide

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Confraternização de Final de Ano / 2020

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